Nada é tão relevante para os negócios, para o governo, e para os incontáveis grupos e organizações que modelam nosso trabalho, lazer e modo de vida do que a boa liderança. Dada essa importância, é crucial que desejemos uma resposta para o que afinal possa definir um líder. Nessa questão é bem comum que a resposta pareça estar nas mãos dos liderados. Apesar da resposta ter um fundo de verdade, trata-se, no entanto, de algo muito mais complexo.

O objetivo desse texto é a reflexão a partir dos pontos positivos e negativos da liderança situacional. Estudos da Universidade de Ohio, desenvolvidos na década de 1940, buscavam identificar dimensões independentes do comportamento do líder. Os estudos de Ralph Stogdill (1950) descrevem duas categorias de liderança: estrutura de iniciação (orientados para a tarefa) e orientados para consideração (orientados para as pessoas). Tais estudos identificaram que os líderes em ambas as estruturas nem sempre eram eficazes, o que abriu espaço para a ideia de que deveriam existir outros fatores situacionais, que deveriam sem levados em consideração no estudo sobre liderança.

A liderança situacional é uma abordagem que busca adequar o estilo de liderança à situação e ao perfil dos liderados. O modelo, criado em 1969 por Paul Hersey e Kenneth Blanchard, tem sido amplamente utilizado desde então. Nesse texto vamos discutir a liderança situacional com base em estudos empíricos.

Os pontos positivos

Um grande avanço em nossa compreensão de liderança parte do reconhecimento da necessidade do desenvolvimento de teorias de contingência que incluíssem os fatores situacionais. Robert Tannenbaum e Warren Smchmidt (1958), através de um gráfico a que chamaram continuum de padrões da liderança, apresentaram uma abordagem contingencial da liderança com bastante interesse. O modelo é uma lista de comportamentos possíveis de um líder e para que os gestores pudessem escolher qual estilo seguir, eles recomendaram analisar fatores como: nível de conforto do líder com o estilo de liderança, características dos liderados e a pressão do tempo para tomada de decisões.

A liderança situacional é considerada uma abordagem flexível que pode ser aplicada em diferentes contextos do profissional na vida organizacional. Nesse estilo de liderança torna-se possível ao líder adaptar o seu comportamento às reais necessidades dos liderados e da situação, aumentando as chances de sucesso no alcance dos objetivos e metas do negócio.

Segundo Hersey e Blanchard (1977), sob influência da liderança situacional, existem quatro estágios distintos de maturidade numa organização e, estes influenciam diretamente no estilo de agir do líder para alcançar o sucesso da gestão das pessoas. Cada um desses estilos adequa-se a diferentes situações e aos níveis de maturidade dos liderados. Os estilos: determinar, persuadir, compartilhar e delegar, fazem os liderados serem capazes de entrar num ciclo de desenvolvimento e não se sentirem esquecidos ou meros executores. O líder situacional cria potenciais sucessores e equipes extremamente eficazes.

Esse tipo de liderança também tem sido associado a um maior comprometimento e satisfação dos colaboradores das organizações.

Em um estudo realizado por Eagly et al. (2003), os colaboradores relataram maior satisfação dos funcionários quando os seus líderes adotaram um estilo de liderança mais democrático e participativo. Considerando que líderes situacionais regularmente são capazes de identificar as necessidades dos colaboradores e fornecer suporte, o que pode aumentar a motivação e produtividade.

Outro ponto positivo é que a liderança situacional, ajuda a desenvolver a capacidade dos liderados, uma vez que delega responsabilidades e contribui para a tomada de decisões em conjunto com os liderados. O líder situacional ajuda a desenvolver as habilidades de liderança do grupo e aumenta a autoconfiança.

Os pontos negativos

Apesar das muitas vantagens, alguns pontos negativos podem ser considerados na prática de liderança situacional. Um deles é a dificuldade de identificar o nível de maturidade dos liderados. Se o líder não conseguir identificar o nível de maturidade dos liderados, ele pode adotar o estilo de liderança errado, o que pode prejudicar o desempenho da equipe.

Hersey e Blanchard (1977), propõem quatro vetores de maturidade para os colaboradores, uma maneira de os líderes identificarem as características dos seus liderados:

  • M1, estilo que apresenta baixa maturidade para a tarefa e para o relacionamento;
  • M2, estilo que apresenta baixa maturidade para o relacionamento e alta maturidade para a tarefa;
  • M3, estilo que apresenta média maturidade para o relacionamento e para a tarefa, porque ainda tem pouca confiança em si próprio e depende da aprovação de terceiros para seguir em frente;
  • M4, estilo que apresenta alta maturidade para o relacionamento com as pessoas e alta maturidade para a tarefa.

A liderança situacional pode ser vista como uma liderança manipuladora pelos liderados, pois eles podem sentir que estão sendo tratados de maneira diferente em diferentes situações e que o líder, para obter resultados para a organização, está tentando manipular suas emoções. Essa percepção pode afetar negativamente a confiança dos colaboradores no líder e na própria organização.

Outro ponto negativo da liderança situacional é que ela pode ser difícil de implementar em organizações grandes e complexas. Esse tipo de liderança requer que o líder tenha um conhecimento profundo de cada indivíduo e de sua situação, o que pode ser difícil em organizações grandes e com muitos níveis hierárquicos.

A questão que pode finalizar por agora a nossa reflexão, sem, contudo, deixar de reforçar que o tema é bastante complexo e o mundo está em constante mudança, é a de que a liderança situacional é uma abordagem flexível e adaptativa que pode ser aplicada em diferentes contextos. Ela permite ao líder adequar seu estilo de liderança às necessidades dos liderados e da situação, aumentando as chances de sucesso na realização dos objetivos. Porém é imprescindível que os líderes identifiquem o nível de maturidade dos liderados que os liderados não se sintam manipulados pelo líder. Além disso levar em conta o nível de dificuldade em organizações grandes e com muitos níveis hierárquicos para a implementação desse tipo de liderança.

A liderança situacional é um modelo que gira em torno da capacidade do líder de se adaptar a qualquer contexto e situação enfrentados pelo segmento de atuação da sua organização. Existe um traço comportamental, que não pode ser relegado a segundo plano, visto que é a base para a ação orientada para um futuro ainda inexistente: o líder deve aprender e desaprender.

Referências

FERNANDES, Almir. Administração Inteligente: os novos caminhos para as organizações do século XXI. São Paulo: Futura, 2001

HERSEY, Paul; BLANCHARD Kenneth H. Psicologia para Administradores de Empresas. São Paulo: Epu-Edusp, 1974.

NETO, José Salibi; MAGALDI, Sandro. Gestão do Amanhã. São Paulo: Gente, 2018

ROBBINS, Stephen p. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2009.

STOGDILL, Ralph M. Leadership, membership, and organization. Psychological bulletin, v. 47, n. 1, pp.1-14, 1950.

Zambonedu

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