O comportamento individual é considerado aquele que mostra as diversas reações particulares e inerentes ao indivíduo, bem como seu modo de agir no ambiente organizacional e tem valor de comunicação. A compreensão do comportamento individual começa com uma revisão das principais contribuições da psicologia e tais contribuições foram divididas em conceitos, também chamados de fatores internos e externos. Os fatores internos são: emoções e valores, atitudes, percepção do ambiente e capacidade de aprendizagem, que por sua vez, determinam o comportamento individual nas organizações. Os fatores externos são: ambiente, sistemas de recompensas e punições, políticas e características organizacionais, fatores sociais, integração e aceitação na equipe. Aborda-se aqui sobre o processo por meio do qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente: a Percepção.

Segundo Goldstein (2019), a percepção pode ser entendida como um processo em que os indivíduos interpretam e organizam as informações sensoriais que recebem do ambiente, atribuindo-lhes significados aos estímulos recebidos, portanto a percepção é um processo crucial na, e para, a interação dos indivíduos na organização, pois molda a maneira como eles enxergam o mundo e afeta suas ações e reações.

Para Robbins (2011), as pesquisas que tratam da percepção humana demonstram, de maneira segura, que diferentes pessoas podem perceber um mesmo estímulo de diferentes maneiras, ou seja, pode-se afirmar que nenhum indivíduo enxerga a realidade, mas o que se faz é interpretar o que se vê e chamar isso de realidade.

As diferentes interpretações da realidade podem estar atribuídas numa série de fatores que atuam muitas vezes para moldar e, algumas vezes para distorcer a percepção. Esses fatores podem estar no observador, no objeto ou alvo da percepção ou ainda no contexto da situação no qual acontece a percepção. Robbins (2011) afirma que cada um desses fatores irá influenciar de maneira consistente a percepção do indivíduo. O autor ressalta ainda que, todo ‘observador’, ao tentar interpretar o que está percebendo, será fortemente influenciado por suas próprias características, o que certamente irá afetar a sua percepção. Tais características são as suas motivações, atitudes, interesses, expectativas e experiências vividas. Dessa mesma maneira as características do ‘alvo’ em observação, irão afetar a percepção, ou seja, o alvo não costuma ser observado isoladamente, sua interação com o cenário influencia a percepção do indivíduo, tal como a tendência das pessoas por agrupar coisas próximas ou parecidas. Portanto, o contexto e o momento, a partir do qual as pessoas percebem os objetos ou eventos, podem influenciar a observação, assim como outros fatores situacionais, como iluminação, localização ou temperatura.

A percepção que se tem sobre pessoas é, em geral, diferente da percepção que se tem sobre objetos inanimados, os quais, por essa característica, não costumam ser percebidos de forma a apresentar muitos vieses ao olhar do observador. No entanto a percepção sobre pessoas é diferente, isso porque cada pessoa faz suas próprias inferências sobre o comportamento das demais pessoas. Ao observar alguém, é comum que o observador faça suposições sobre o que poderia explicar o comportamento do observado, nesse sentido, ao realizar a observação, o observador tenta determinar se a causa que determina certo comportamento no observado é interna ou externa. Esse conceito é conhecido como teoria da atribuição.

A Teoria da Atribuição, proposta por Fritz Heider (1982), é uma abordagem importante para entender como as pessoas explicam o comportamento dos outros e a si mesmas.

Atribui-se ao controle que as pessoas têm sobre o seu comportamento como uma causa interna e aqueles que são estimulados por fatores fora do seu controle como causa externa. Se um funcionário chega atrasado ao trabalho, tende-se a julgar que essa causa foi interna e que ele ficou na folia até muito tarde no dia anterior. Mas também é possível imaginar que esse atraso tenha sido causado por um forte engarrafamento no trânsito causado por um acidente e que esse tenha sido a causa, no caso, um fator externo. Como observadores têm-se a tendência de considerar que o comportamento dos outros é internamente controlado, da mesma maneira que uma pessoa se dispõe a dar muita importância aos fatores externos para justificar o próprio comportamento.

Via de regra, o observador procura regularmente buscar uma coerência nas ações de uma pessoa, ou seja, procura avaliar se a pessoa age frequentemente da mesma maneira e compara se um mesmo comportamento, numa determinada situação similar, também é praticado pelos pares. Quanto mais coerente é o comportamento, mais inclinado fica o observador a atribuí-lo a causas internas, pois há uma tendência de os indivíduos atribuírem o próprio sucesso a fatores internos, tais como capacidade e esforço, e colocar a culpa de eventuais fracassos a fatores externos. Robbins (2011) coloca que a esse comportamento dá-se o nome de viés de auto conveniência e pode sugerir que o feedback dado aos funcionários nas avaliações de desempenho pode ser distorcido, em função de ser positivo ou negativo.

As pessoas estão sempre julgando umas às outras dentro da organização e o fazem adotando uma percepção seletiva. Como não é possível fazê-lo de maneira abrangente, uma forma de realização do julgamento é a simplificação, assimilando os dados por partes, por meio de escolhas, de acordo com os interesses, experiências passadas e atitudes. É mais fácil julgar os outros quando se assume que os outros são parecidos com a pessoa que julga. A similaridade assumida pode resultar numa percepção falsa e no que os outros não são na realidade. Só será verdadeira quando o observador encontrar de fato alguém que seja igual a ele.

Quando se julga alguém com base na percepção que se tem de um grupo, por meio das atitudes regulares e esperadas, usa-se a simplificação da estereotipagem, ou seja, se pertence ao grupo, logo irá agir como ele. Isso pode levar a distorções quando o julgamento não se basear em fatos.

Finalmente a simplificação no julgamento das pessoas nas organizações pode assumir a construção que se faz de alguém com base em uma única característica, como sua inteligência, sociabilidade ou aparência, o efeito de halo. Essa simplificação, não raramente, acontece durante entrevistas de seleção, quando o entrevistador julga que um candidato com aparência descuidada deverá ser irresponsável, pouco profissional e sem capacidade para o cargo ao qual concorre, quando na verdade a pessoa pode ser exatamente o contrário. O que de fato aconteceu foi que um único traço, a aparência, superou todas as demais características na percepção geral do entrevistador.

Em suma, a percepção desempenha um papel fundamental na compreensão do comportamento humano. Os fundamentos teóricos da percepção, incluindo a teoria de Heider, são cruciais para compreender de que forma os indivíduos interpretam o mundo ao seu redor e a partir de suas próprias atitudes, bem como a percepção social desempenha papel fundamental na formação das impressões sobre os outros e influencia nossas ações em relação a eles.

Referências:

GOLDSTEIN, E. Bruce; BROCKMOLE, James R. Sensation and Perception. Boston (USA): Cengage Learning, 2019.

HEIDER, Fritz. The Psychology of Interpersonal Relations. New York: John Wiley & Sons, 1982.

ROBBINS, Stephen P. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2011.

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